Inaugurado em 1940, o Autódromo de Interlagos passou a se chamar José Carlos Pace em 1985, oito anos após sua morte em acidente aéreo, em 1977
Por iniciativa da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), por intermédio da Comissão Nacional de Veículos Históricos (CNVH), o autódromo do bairro paulistano de Interlagos foi palco de um evento marcado por emoção, simbolismo e de valorização da memória do automobilismo brasileiro. Na sexta-feira, 23, os restos mortais de José Carlos Pace foram depositados no circuito mundialmente famoso, que desde 1985 é denominado Autódromo Municipal José Carlos Pace.
Paulo “Loco” Figueiredo, presidente da CNVH e idealizador da homenagem, relembra que tem buscado cumprir, à risca, a incumbência a ele determinada pelo presidente da CBA, Giovanni Guerra, quando do convite para dirigir a comissão então recém-criada. “Paulo, preciso que você me ajude a resgatar a memória do automobilismo brasileiro para que, com as Graças de Deus, nossos pilotos atuais e do futuro se orgulhem ainda mais do esporte que praticam”.
Apesar da tarefa a ser cumprida, o piloto, construtor de carros e curador de museus nada mais fez do que dar continuidade à sua rotina de toda uma vida, desde que, com sete anos de idade, acompanhava o trabalho do pai, Moacyr Figueiredo, mais conhecido como Flexa, como piloto de testes da Simca do Brasil. Em meio às diversas ações desenvolvidas na CBA, Paulo ficou estarrecido ao saber que o túmulo de José Carlos Pace, no Cemitério do Araçá, havia sido vandalizado, avisado que foi pelo jornalista Ricardo Caruso, especializado em automóveis e automobilismo.
Foi automática a ideia de trasladar os restos mortais do vencedor do GP Brasil de Fórmula 1 de 1975 para o Autódromo Municipal José Carlos Pace, de modo a depositá-los junto ao busto há quase 40 anos ali existente em homenagem ao piloto que correu por equipes de Fórmula 1 dirigidas por nomes lendários como Frank Williams, John Surtees e Bernie Ecclestone.
Mas não uma tarefa fácil. Foram três meses de trabalho, que incluíram a aprovação da família Pace, tratativas com órgãos da Prefeitura Municipal de São Paulo, exumação do corpo, autorizações para o traslado, decoração do local, confecção da placa, distribuição de convites e tudo o mais.
Foram inestimáveis os esforços de Ricardo Caruso; do prefeito Ricardo Nunes, nas autorizações necessárias; do diretor do autódromo, Marcelo Pinto, na disponibilização e reforma do espaço; e de Dener Pires, CEO da Porsche Cup, que paralisou seu evento e, às 12h00, liberou a pista por 15 minutos para que Pace pudesse dar sua última volta no mesmo Karmann-Ghia que pilotou com Emerson e Wilson Fittipaldi Junior.
Pilotado pelo seu filho, Rodrigo Pace, o carro histórico, hoje na coleção do empresário Maurício Marx, recebeu a última bandeirada, antes de ir para a “última morada”. Dona Elda, viúva de Pace, além da filha Patrícia e dos netos, também estavam presentes na homenagem, juntamente com Dona Rita Fittipaldi, viúva do primeiro e único brasileiro a criar uma equipe brasileira de Fórmula 1.
Pela CBA, representando o presidente (ausente por estar em evento da FIA no Peru), estiveram no autódromo Fábio Greco (presidente) e Sergio Berti, do Conselho Técnico Desportivo Nacional (CTDN), além de Paulo Loco. Acompanharam a cerimônia nomes de destaques do automobilismo nacional, tais como Paulo Gomes, Alex Dias Ribeiro, Chico Lameirão, Almir Donato, Augusto Tolentino, entre outros.
“O que me motivou foi a busca constante pela preservação da nossa história, nossos feitos, nossos carros de competição e honrar tudo que já foi realizado pelo automobilismo que tanto amamos. É o esporte que eu vivo desde sempre. Meu pai foi piloto de teste da Simca, ou seja, eu nasci no autódromo, cresci vendo Pace (José Carlos Pace), Emerson (Fittipaldi) e Wilson (Fittipaldi Junior), Bird Clemente e tantos outros. O mínimo que eu posso fazer é preservar história dos meus heróis”, disse Paulo Loco, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
O local recebeu coroas de flores de amigos e admiradores, como do organizador da solenidade Paulo ‘Loco’ Figueiredo; do presidente da CBA, Giovanni Guerra; do prefeito de São Paulo, da administração do autódromo e das família Pace, Fittipaldi e Fanucchi, Gliden e D’Andrea.
“Acredito que, a partir de agora, as pessoas entenderão melhor a importância que José Carlos Pace teve em nossa história, tanto como piloto quanto como amigo de muitos outros pilotos. Após superar tanta burocracia, conseguimos realizar essa homenagem tão significativa’, observou Paulo.
Por: Confederação Brasileira de Automobilismo